Desvendando a Superfície de Ataque: Pense Como um Atacante

A gestão da superfície de ataque (Attack Surface Management – ASM) é o processo de identificação, análise e gestão dos diversos pontos de entrada que cibercriminosos poderiam explorar, para obter acesso não autorizado a redes ou ativos organizacionais. Trata-se de mapear todas as possíveis formas pelas quais um atacante poderia penetrar nas defesas, incluindo vulnerabilidades de softwares, configurações de rede, integrações de terceiros e outros pontos fracos em potencial.

A abordagem da ASM deve sempre espelhar o olhar de um agente invasor, adotando uma mentalidade de equipe “red team” em vez de “blue team”.


A essência é simples: pense como um atacante, para identificar as portas de entrada e vulnerabilidades que poderiam ser exploradas para alcançar o alvo.

Os Três Elementos da Superfície de Ataque

Acredita-se amplamente que a superfície de ataque de uma organização consiste em três áreas principais:

  1. A superfície de ataque física, abrangendo locais e instalações vulneráveis a invasões.
  2. A superfície de ataque humana, relacionada a indivíduos que podem ser alvo de ataques de engenharia social, chantagem, entre outros.
  3. A superfície de ataque digital, englobando tudo que pode ser alvo de um ciberataque.

As Cinco Etapas de uma Estratégia de Gestão da Superfície de Ataque

Uma estratégia eficaz de gestão da superfície de ataque deve incorporar (no mínimo) estas cinco etapas fundamentais:

  1. Descoberta de Ativos (Asset Discovery): Conheça seus ativos e sua exposição.
  2. Análise: Examine-os para detectar Vulnerabilidades Comuns Expostas (CVEs) e riscos potenciais.
  3. Priorização: Decida o que deve ser abordado em primeiro lugar.
  4. Remediação: Tome as medidas necessárias.
  5. Controle (Monitoramento) – e o ciclo se repete.

Descoberta de Ativos (Asset Discovery)

A fase inicial e fundamental na estratégia de Gestão da Superfície de Ataque é a “Descoberta de Ativos” (Asset Discovery). Nesta etapa, a organização se empenha em obter um conhecimento abrangente de todos os ativos digitais sob sua responsabilidade, bem como compreender a extensão de sua exposição no ambiente online.

O processo de Descoberta de Ativos é crucial porque não se pode proteger o que não se conhece. As empresas frequentemente possuem uma ampla gama de sistemas, aplicativos, servidores, dispositivos e recursos digitais que podem ser alvos potenciais de ataques. Sem um entendimento completo desses ativos, torna-se difícil implementar medidas eficazes de segurança.

Durante a Descoberta de Ativos, a organização busca identificar todos os recursos em uso, independentemente de estarem visíveis publicamente ou escondidos em partes mais obscuras da infraestrutura digital. Isso envolve mapear os ativos internos e externos, desde servidores e bancos de dados até sites públicos, aplicativos da web e APIs. Além disso, é importante avaliar como esses ativos estão conectados e interagem entre si, o que pode revelar possíveis pontos de entrada para atacantes.

A Descoberta de Ativos não se limita apenas ao que a organização controla diretamente. Ela também inclui a identificação de ativos de terceiros que estão integrados à infraestrutura, pois essas conexões podem introduzir riscos adicionais. Essa visão holística dos ativos digitais permite que a organização tenha uma compreensão completa da sua superfície de ataque.

Uma vez que todos os ativos foram identificados, a organização pode avaliar sua exposição. Isso significa entender quais ativos estão expostos publicamente na internet e quais estão mais protegidos dentro da rede corporativa. Essa análise ajuda a priorizar os esforços de segurança, concentrando-se nos ativos mais críticos e vulneráveis.

Etapa de Análise

A segunda etapa crucial na estratégia de Gestão da Superfície de Ataque é a “Análise”. Após ter uma visão clara dos ativos digitais da organização, é necessário examiná-los minuciosamente para identificar vulnerabilidades comuns expostas e avaliar os riscos potenciais associados a essas vulnerabilidades.

A análise consiste em aplicar uma abordagem rigorosa de avaliação de segurança aos ativos identificados durante a fase de Descoberta. Isso implica em investigar a presença de CVEs conhecidas, que são falhas de segurança documentadas e divulgadas publicamente em softwares, sistemas operacionais, aplicativos e serviços. As CVEs são uma fonte valiosa de informações para hackers, e sua exploração pode levar a ataques bem-sucedidos.

Durante a análise, a equipe de segurança procura determinar se os ativos identificados possuem vulnerabilidades que poderiam ser exploradas por atacantes. Isso envolve a identificação de falhas de software desatualizado, configurações incorretas ou falhas de projeto que possam resultar em brechas de segurança. Além das CVEs, também é importante considerar os riscos potenciais que podem surgir de cenários de ataque específicos.

A análise busca responder a perguntas como: Quais são as fraquezas conhecidas desses ativos? Como essas fraquezas podem ser exploradas por atacantes? Quais são os impactos potenciais de uma exploração bem-sucedida dessas vulnerabilidades?

É importante ressaltar que a análise não se limita apenas a avaliar a presença de CVEs conhecidas. Ela também envolve uma abordagem proativa para identificar possíveis riscos, mesmo quando não há uma CVE específica associada. Isso inclui considerar cenários de ataque mais amplos e entender como as vulnerabilidades podem ser combinadas para explorar diferentes vetores de ataque.

A etapa de Análise é uma investigação profunda dos ativos digitais da organização para identificar vulnerabilidades e riscos potenciais. Ela permite uma compreensão clara das ameaças que podem afetar os ativos, fornecendo a base para a próxima etapa da estratégia de Gestão da Superfície de Ataque: a Priorização.

Priorização de Vulnerabilidades

Na terceira etapa da estratégia de Gestão da Superfície de Ataque, ocorre a “Priorização”. Aqui, após a análise das vulnerabilidades e riscos dos ativos, é essencial determinar quais ações devem ser tomadas primeiro. Isso envolve classificar as vulnerabilidades com base em sua gravidade e potencial de impacto. Nem todas as vulnerabilidades são iguais, e é importante focar nos pontos mais críticos.

A Priorização envolve responder a questões-chave: Quais vulnerabilidades são mais prováveis de serem exploradas? Quais podem causar danos significativos? Quais ativos são mais importantes para a organização e devem ser protegidos com prioridade?

Vários critérios podem ser usados para essa avaliação, incluindo a gravidade da vulnerabilidade, o potencial de impacto, a facilidade de exploração, o valor do ativo afetado e a relevância para possíveis atacantes. Essa etapa é crucial para direcionar os esforços de remediação de maneira eficaz e focada nos riscos mais significativos.

Remediação

Na fase de “Remediação” da estratégia de Gestão da Superfície de Ataque, é o momento de tomar medidas concretas para mitigar os riscos identificados durante a análise. Isso envolve corrigir as vulnerabilidades, fortalecer as configurações de segurança e aplicar patches onde necessário. A remediação é essencial para fechar as portas de entrada potenciais, para os cibercriminosos e proteger os ativos da organização.

Equipes de segurança, desenvolvimento e operações trabalham em conjunto para implementar as correções de maneira eficiente. A colaboração é fundamental para garantir que as medidas corretivas sejam aplicadas, sem interromper as operações comerciais. Além disso, a remediação não é um esforço único; é um processo contínuo que requer monitoramento e adaptação constantes para garantir que a segurança seja mantida ao longo do tempo.

A remediação não se limita apenas à correção técnica. Também pode envolver treinamento e conscientização para os funcionários sobre boas práticas de segurança, aprimoramento das políticas de segurança da organização e adoção de medidas proativas, para minimizar riscos futuros. Em última análise, a remediação desempenha um papel vital na proteção contra ameaças cibernéticas e na manutenção de uma postura de segurança sólida.

Monitoramento

O quinto passo na estratégia de Gestão da Superfície de Ataque é o “Controle” ou monitoramento contínuo. Após a fase de remediação, é crucial manter uma vigilância constante sobre a postura de segurança da organização. Isso envolve o monitoramento regular dos ativos, configurações e vulnerabilidades para detectar qualquer atividade suspeita ou novas ameaças.

O controle não é apenas uma etapa final, mas sim um processo cíclico. À medida que novos ativos são adicionados, sistemas são atualizados ou novas vulnerabilidades são descobertas, o ciclo de Gestão da Superfície de Ataque reinicia. O monitoramento contínuo permite identificar mudanças na exposição de ativos e responder rapidamente a ameaças emergentes.

Painéis analíticos e métricas-chave são frequentemente usados para fornecer uma visão abrangente da postura de segurança da organização. Esses painéis ajudam os CISOs e as equipes de segurança a entenderem as tendências, avaliarem a eficácia das medidas de remediação e tomarem decisões informadas para fortalecer a segurança.

Ao repetir esse ciclo de “Descoberta de Ativos, Análise, Priorização, Remediação e Controle”, as organizações podem melhorar continuamente sua postura de segurança, reduzir riscos e estar preparadas para enfrentar as ameaças cibernéticas em evolução. O monitoramento contínuo é a chave para manter a resiliência e proteger os ativos digitais.

A ASM abrange uma série de atividades, como análise de vulnerabilidades, testes de penetração, simulação de ataques, gerenciamento de configuração, modelagem de ameaças e monitoramento contínuo. Requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais de TI, especialistas em segurança e equipes de gerenciamento de riscos.

Ferramentas e Tecnologias de Gestão da Superfície de Ataque

No universo dos ativos digitais, a gestão da superfície de ataque pode ser dividida em três grandes tecnologias:

• DRP: Serviços de Proteção contra Riscos Digitais (ou Digital Risk Protection services)

• CAASM: Gestão da Superfície de Ataque de Ativos Cibernéticos (ou Cyber Asset Attack Surface Management)

• EASM: Gestão da Superfície de Ataque Externo (ou External Attack Surface Management)

Serviços de Proteção contra Riscos Digitais (DRP)

Os Serviços de Proteção contra Riscos Digitais (DRP) são soluções e serviços projetados para detectar e gerenciar riscos digitais. Eles monitoram diversas fontes online, incluindo redes sociais, fóruns e sites da Dark Web, para identificar atividades suspeitas e ameaças em tempo real. Isso inclui ataques de phishing que visam enganar indivíduos, vazamentos de dados sensíveis e outras ameaças cibernéticas.

Esses serviços têm como objetivo proteger a organização, prevenindo danos à reputação e vazamentos de informações confidenciais. Ao detectar ameaças precocemente, os DRPs permitem que as organizações respondam rapidamente e adotem medidas para mitigar os riscos. Eles também ajudam a identificar áreas vulneráveis e a implementar estratégias de segurança mais eficazes.

Os DRPs complementam as estratégias de segurança existentes, fornecendo uma camada adicional de defesa contra ameaças cibernéticas. Ao monitorar continuamente o ambiente digital da organização, esses serviços permitem uma abordagem proativa para a segurança cibernética, garantindo que as ameaças sejam identificadas e tratadas antes que causem danos significativos. Enquanto os DRPs concentram-se na pegada digital e na vigilância contra ameaças, as soluções CAASM e EASM focalizam-se nos riscos de segurança associados aos ativos – embora alguns fornecedores possam desempenhar múltiplos papéis simultaneamente. Recentemente, o termo Gestão de Exposição foi introduzido, expandindo o escopo além do Gerenciamento de Vulnerabilidades, abarcando tudo que não envolve CVEs.

Uma visão de CAASM

A Gestão da Superfície de Ataque de Ativos Cibernéticos (CAASM) é uma disciplina estratégica da cibersegurança focada na identificação, análise e gerenciamento dos ativos digitais que uma organização possui e de como eles estão expostos a possíveis ameaças e ataques cibernéticos. Esses ativos podem variar desde servidores, aplicativos e bancos de dados até serviços em nuvem, APIs e sistemas conectados à Internet. A CAASM busca oferecer uma visão abrangente dos pontos de entrada e exposição da organização, permitindo que medidas proativas sejam tomadas para fortalecer sua postura de segurança.

EASM

A Gestão da Superfície de Ataque Externa (EASM) é uma disciplina voltada para identificar e gerenciar os ativos digitais, serviços e pontos de entrada que estão acessíveis externamente através da internet. Isso inclui sites, aplicativos da web, APIs, servidores de e-mail e outros recursos que estão disponíveis publicamente e podem ser alvo de ataques cibernéticos. A EASM visa fornecer uma visão abrangente desses pontos de exposição, permitindo que as organizações entendam e reduzam os riscos associados.

A EASM é um processo contínuo que exige monitoramento constante dos ativos expostos e das ameaças que possam surgir. Isso permite uma resposta rápida a novas vulnerabilidades ou ataques.

Em contraste com as soluções CAASM, as ferramentas EASM são projetadas para a detecção de ativos. Essas detecções alimentam o processo CAASM, que se concentra mais na criação de um panorama geral do que no reconhecimento em si.

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