O conceito de Detecção e Resposta a Ameaças de Identidade (ITDR, na sigla em inglês) tem recebido destaque na comunidade de cibersegurança, especialmente em eventos recentes, como o Tech Day, e também foi apontado pelo Gartner como uma tendência significativa no setor. Trata-se de uma disciplina de segurança que engloba inteligência de ameaças, unificando ferramentas e melhores práticas para proteger os sistemas de identidade. Essa abordagem representa uma nova forma de trabalho para o mercado e tem sido discutida em todo o mundo, embora ainda haja muito a ser feito no Brasil.
O ITDR surgiu como um conceito fundamental na segurança cibernética, com foco na proteção das identidades dos usuários e na redução dos riscos, por meio da implementação de sistemas e processos capazes de identificar atividades suspeitas ou anormais relacionadas aos usuários. Enquanto a abordagem tradicional se concentra apenas nas identidades dos usuários dentro dos sistemas de identidade e gestão de acesso (IAM) e Gerenciamento de Acesso Privilegiado (PAM), o ITDR evoluiu essas perspectivas para uma visão mais abrangente. A convergência com ferramentas de análise de risco permite uma compreensão melhor da superfície de ataque a qual os usuários estão expostos, indo além das abordagens centradas no usuário para incluir toda a infraestrutura que suporta o gerenciamento de usuários.
À medida que o número e a sofisticação dos ataques direcionados à identidade aumentam, o ITDR torna-se cada vez mais essencial para as organizações protegerem seus sistemas e dados confidenciais. Ele complementa outras medidas de segurança, como firewalls, antivírus e autenticação multifator, fornecendo uma camada adicional de proteção específica para ameaças relacionadas à identidade.
A implementação de soluções de ITDR permite que as organizações aprimorem significativamente sua postura de segurança, porém exige uma compreensão profunda das ameaças que rondam as identidades dos usuários e a capacidade de responder a essas ameaças de maneira ágil e precisa. Para isso, é fundamental adotar abordagens técnicas e metodologias que abranjam desde a coleta de dados até a análise comportamental, permitindo a identificação de atividades anômalas. Abaixo, exploramos algumas metodologias-chave que podem ser empregadas para implementar o ITDR:
Coleta e Correlação de Dados: O primeiro passo envolve a coleta de dados de diferentes fontes, como logs de sistemas, informações de autenticação e registros de eventos. Esses dados podem ser agregados e correlacionados para criar uma visão holística das atividades relacionadas às identidades dos usuários. Ferramentas como SIEM desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a análise de padrões e anomalias.
Análise Comportamental: A análise comportamental é um pilar essencial do ITDR. Através do monitoramento contínuo do comportamento do usuário, é possível identificar desvios do padrão estabelecido. Técnicas de aprendizado de máquina e análise estatística podem ser empregadas para detectar comportamentos suspeitos, como tentativas de acesso a recursos não autorizados ou mudanças súbitas nos padrões de uso.
Autenticação Avançada: A autenticação multifator (MFA) é uma peça fundamental na defesa das identidades dos usuários. Além disso, a implementação de soluções de autenticação adaptativa pode avaliar o risco associado a uma tentativa de acesso e solicitar etapas adicionais de autenticação quando comportamentos anômalos são detectados.
Modelagem de Ameaças: Desenvolver modelos de ameaças específicos para a organização é crucial para a identificação precoce e a resposta eficaz. Esses modelos podem ser construídos com base em conhecimento interno e externo, considerando as táticas, técnicas e procedimentos utilizados por atores maliciosos.
Orquestração e Automação de Respostas: A capacidade de resposta é uma faceta essencial do ITDR. A orquestração e automação de respostas permitem que ações pré-definidas sejam acionadas automaticamente em resposta a eventos de ameaças, reduzindo o tempo de reação e minimizando o impacto das violações.
Para aproveitar plenamente os benefícios do ITDR, as organizações precisam expandir sua perspectiva além do gerenciamento de identidades centrado no usuário. Isso envolve considerar a infraestrutura mais ampla que suporta o gerenciamento de identidade e entender a interação entre vários componentes. Ao adotar uma abordagem holística, as organizações podem identificar vulnerabilidades potenciais e implementar medidas proativas para proteger identidades em toda a infraestrutura. No entanto, isso requer um certo nível de maturidade cibernética, que ainda está em desenvolvimento no Brasil.
Um aspecto importante a ser considerado é que ainda estamos concentrados nas discussões sobre Zero Trust, porém ainda não se compreendeu que existem conceitos anteriores, como o ITDR, e diversas soluções que levam a ele, incluindo uma visão mais integrada da identidade. Outro ponto relevante é a necessidade de políticas de gestão de identidade bem estruturadas, pois elas são o primeiro passo nessa jornada para alcançar a experiência necessária e evoluir no assunto. É claro que as ferramentas escolhidas desempenham um papel importante, mas precisam ser direcionadas e ter objetivos bem definidos.
Para combater efetivamente as ameaças cibernéticas em constante evolução e proteger as identidades dos usuários, as organizações no Brasil devem se preparar para adotar o ITDR. Ao fazer isso, podem aprimorar sua postura de segurança, preservar a confiança do usuário e garantir a conformidade com as regulamentações. O momento de agir é agora, pois o ITDR representa a convergência de tecnologias que serão adotadas por todas as organizações visionárias.
Escrito por: Ivan Rodrigo Gonzalez Munoz é Head Soluções de cyber na Stefanini Rafael, empresa do Grupo Stefanini focada em cibersegurança.
Alexandre Morelli é Head de Delivery em CyberSecurity.